Médicos americanos anunciaram nesta quarta-feira que um
bebê nascido com HIV pode ter sido curado. Ele seria o segundo recém-nascido a
livrar-se da doença por ter recebido altas doses de um coquetel antirretroviral
poucas horas após o nascimento. (NE10).

pesquisadora Deborah Persaud, da Universidade Johns Hopkins,
nos Estados
Unidos, envolvida nos dois casos de possível cura de
HIV em recém-nascidos
(Universidade Johns Hopkins)
No início do ano passado, cientistas revelaram que um bebê nascido no Mississipi, nos Estados Unidos, foi tratado com doses elevadas da medicação assim que nasceu e seguiu com o tratamento por 18 meses. Exames feitos depois disso não detectaram quantidades significativas do vírus na criança, que estava com dois anos e meio.
Ela teria passado pelo que os
médicos chamam de “cura funcional”, quando a presença do vírus é tão reduzida
que o sistema imunológico é capaz de controlá-lo sem a ajuda de medicamentos.
No entanto, os cientistas ainda estavam céticos a respeito desse tipo de cura e
tinham dúvidas se o tratamento funcionaria em outros recém-nascidos.
Os pediatras do Hospital Infantil Milller, na Califórnia,
Estados Unidos, onde o segundo bebê nasceu, tinham visto o sucesso do
tratamento da primeira criança e tentaram reproduzi-lo. Nove horas após o
nascimento, deram ao bebê um coquetel de AZT, 3TC e
nevirapine, usado para o tratamento de crianças mais velhas.
As recomendações médicas sugerem que se administrem doses
profiláticas de um ou dois antirretrovirais durante as primeiras seis semanas
de vida em crianças com risco de desenvolver a doença – ou seja, nascidos de
mães soropositivas que não receberam o tratamento adequado. Apenas depois de
receberam o diagnóstico da doença, normalmente entre um e quatro meses de
idade, elas passam a tomar o coquetel de três antirretrovirais.
Resultado - Hoje com nove meses, mesmo os testes mais sensíveis
não detectam o vírus da aids no corpo da criança da Califórnia.
Ele é filho de
uma mãe que, apesar de ter recebido prescrições de medicamentos que protegeriam
o filho da doença, não os tomou. Poucas horas depois do nascimento, o
vírus foi encontrado no bebê. “Dizemos que ele está revertido para
HIV negativo, porque ele ainda está em tratamento”, afirmou ao jornal The New
York Times Deborah Persaud, virologista do Centro Infantil da Universidade
Johns Hopkins, envolvida no tratamento dos dois bebês. Os cientistas são
cautelosos em afirmar que a criança foi curada, mas têm a esperança de que ela
não desenvolva a doença, como a criança de Mississipi, que hoje tem 3 anos e
parece livre do vírus.
Novas perspectivas – A revelação foi feita em uma conferência
sobre aids em Boston, nos Estados Unidos, que reúne os principais pesquisadores
da doença do mundo. Os cientistas também afirmaram que um estudo financiado
pelo governo americano irá submeter a testes cinquenta bebês dos Estados Unidos
e de outros países. Eles irão receber a medicação agressiva após o nascimento e
vão parar de usá-la após certo período. Se, depois desse tempo, for
confirmado que a infecção não está ativa, isso provavelmente irá mudar a
forma como é feito o tratamento em recém-nascidos diagnosticados com o vírus da
aids.
As Nações Unidas estimam que mais de 3 milhões de crianças em
todo o mundo vivam com a aids. No entanto, nos Estados Unidos, assim como no
Brasil, poucas crianças nascem com a doença, pois as mães soropositivas
costumam receber tratamento com medicamentos que protegem a criança do
vírus.
Prevenção da aids – Além da revelação da possível cura, dois
estudos divulgados durante a conferência também mostraram evidências de
que a doença poderá ser evitada de maneira mais eficaz. Eles demonstram como
injeções mensais de antirretrovirais protegem macacos por várias semanas, após
a infecção pelo HIV. Se os testes forem eficazes também em humanos, essa pode
ser uma descoberta que ajudará prevenir a doença em todo o mundo.
Na última década, testes clínicos demonstraram que ingerir
pequenas doses diárias de antirretrovirais reduz em mais de 90% o risco de
infecção pelo vírus da aids. Os médicos normalmente receitam essa medicação a
pessoas de grupos de alto risco, como casais em que um dos parceiros é soropositivo
ou prostitutas. O objetivo é dificultar a proliferação do vírus e reduzir as
chances de a doença se desenvolver. No entanto, muitos não conseguem tomar
o remédio todos os dias, reduzindo substancialmente sua eficácia. Uma injeção
que funcione durante semanas ou meses poderia solucionar esse problema.
Foi o que mostraram as duas pesquisas, desenvolvidas nos Estados
Unidos. Em uma delas, publicada
na revista Science e realizada pela Universidade Rockfeller, nos
Estados Unidos, os cientistas injetaram em dezesseis macacos uma medicação
experimental chamada GSK774, desenvolvida pelo laboratório GlaxoSmithKline. Ela
é a versão de longa duração de um antirretroviral aprovado pelo órgão
regulatório americano Food and Drug Administration (FDA).
Semanalmente, durante
dois meses, os animais receberam doses do vírus, simulando a contaminação pela
aids. Protegidos pelas injeções, nenhum deles desenvolveu a doença.
O mesmo medicamento foi usado no estudo
realizado pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças americano (CDC, na
sigla em inglês). Seis macacos receberam as doses e, duas vezes por
semana, por dois meses e meio, foram expostos ao vírus.
Todos ficaram livres da
aids.
Ação em humanos – Os pesquisadores pretendem começar os
experimentos clínicos em humanos com a nova medicação até o fim deste ano.
O
primeiro grupo a participar dos testes será composto de 175 pessoas do Brasil,
Estados Unidos, África do Sul e Malauí. No entanto, eles podem levar até
três anos para comprovar que o antirretroviral de longa duração tem a mesma
eficácia em nós que em macacos.
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