O secretário de Defesa Social de Pernambuco,
Alessandro Carvalho, informou, em entrevista coletiva no fim da tarde de sexta-feira dia 16, que os policiais militares envolvidos com o movimento
grevista realizado em Pernambuco poderão ser punidos.
"Greve é considerada
motim ou rebelião pelo Código Penal Militar.
Estou falando de crime. Estamos consolidando
os dados para instaurar inquéritos, para encaminhar à Justiça Militar.
Tudo
será feito em seu devido tempo e respeitando todos os direitos dos envolvidos,
que podem responder a ação de ordem criminal ou responsabilização civil",
acrescentou Carvalho.
Apesar do fim da greve, 2.250 homens das Forças
Armadas e da Força Nacional de Segurança Pública seguem nas ruas de Pernambuco,
sendo 1.300 na capital e região metropolitana, e 950 nas cidades do
interior.
"A logística para trazer as tropas é complicada e
onerosa. Já que houve essa despesa, é prudente que a tropa permaneça no estado,
mas essa medida de exceção pode ser retirada a qualquer momento", pontuou
o secretário Carvalho. Essa redução do tempo também é considerada pelo
governador João Lyra Neto. "Ele poderá ser reduzido, dependendo do
restabelecimento do clima, ou prorrogado, mas nós acreditamos que [a ordem]
deverá ser restabelecida o mais rápido possível", disse.
De acordo com a Secretaria de Defesa Social (SDS), no período da paralisação,
houve aumento de 136,35% no número médio de roubos no estado.
Entre 1º de
janeiro a 12 de maio, a média foi de 126,5 por dia.
De 13 a 15 de maio,
período da greve, foram 897 roubos, elevando a média para 299 por dia.
Em relação aos homicídios, a SDS informou que a
média de assassinatos durante a paralisação foi de 13,3 homicídios por dia, em
Pernambuco, quantidade superior à registrada nos primeiros doze dias do mês
(9,8).
Durante a mobilização dos PMs, foram registrados 12 homicídios no
Recife, mais 14 na região metropolitana e outros 14 no interior.
Já o número de
furtos no estado caiu 22,86%. "Apesar da quantidade de pessoas saqueando
que vimos em diversos estabelecimentos, cada loja é uma ocorrência, é
considerado um único furto", detalha Carvalho.
Governador João
Lyra Neto e secretário Alessandro Carvalho, em reunião no Palácio do Campo das
Princesas (Foto: Eduardo Braga / Secretaria de Imprensa )
O general Jesus Corrêa, da 7ª Região Militar (RM),
comandante da operação em Pernambuco, disse que hoje estão em atuação tropas do
próprio estado e outras vinda de Maceió, que foram convocadas para garantia da
lei e da ordem pública. "Além da capital, ocupamos cidades estratégicas,
como Petrolina, no Sertão, e Garanhuns e Caruaru, no Agreste. Passamos a realizar
o patrulhamento e a autuação de ações delituosas, como saques. Na parte da
tarde [de hoje], realizamos um périplo nos principais pontos do estado e vimos
que a população tem retomado seu cotidiano, que está de volta à
normalidade", pontuou o general.
Corrêa detalhou que a capital foi dividida em
quadrantes. Os militares ocuparam pontos recomendados pela SDS onde havia mais
ocorrências, como o entorno do Aeroporto do Recife, terminais de ônibus e
locais de grande circulação. Segundo Carvalho, após o fim da paralisação, os
PMs voltaram de forma gradual ao trabalho, antes da meia-noite de quinta-feira
(15). "Acompanhamos as trocas de turnos, que ocorrem às 7h, e tudo ocorreu
bem. Não tivemos mais registros de saques e roubos", comentou.
O general contou também que tropas do Rio Grande do
Norte estavam em deslocamento, mas voltaram a seus quartéis em função do fim da
greve. Militares lotados em outros estados também já tinham sido mobilizados. O
secretário da Casa Civil, Luciano Vasquez, afirmou que a ação integrada no
estado continua sendo acompanhada por uma comissão permanente.
Tanto o secretário Alessandro Carvalho quando o
governador João Lyra Neto chamaram a atenção para as cenas de vandalismo
durante os saques promovidos pela população de várias cidades. "Não é
somente a ausência da polícia que provocaria a população a fazer saques como
foram feitos. Nós temos que aprofundar essa investigação, ver as causas desse
sentimento da população. [...] Se aconteceu em Pernambuco, deverá acontecer em
outros estados, nós temos a preocupação de identificar essas causas",
destacou Lyra Neto. "A polícia não estava nas ruas e vimos o que se
instalou. Não eram criminosos contumazes envolvidos nos crimes, mas mulheres e
até crianças. Isso merece uma grande reflexão", opinou Carvalho.
Posição dos grevistas
Na sexta, as lideranças da comissão independente dos PMs que organizou a
paralisação voltaram a afirmar que as conquistas conseguidas pela categoria
foram importantes.
"Por causa de uma lei, não pudemos lutar mais sobre o
aumento de nosso salário, mas conseguimos vitórias", afirmou o soldado
Joel Maurino, um dos líderes do movimento.
A partir da segunda-feira (19), uma
comissão irá acompanhar a votação do plano de promoções dos praças na
Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe).
Fim do movimento
A comissão independente de policiais e bombeiros militares decidiu encerrar a
greve da Polícia Militar, na noite da quinta, em assembleia no Centro do
Recife. A reunião foi tumultuada e os líderes do movimento chegaram a ser
vaiados por quem queria continuar com a paralisação.
Três itens foram acordados
com o governo: a reestruturação do Hospital da PM, implantação da gratificação
por risco de vida no salário-base e a aprovação, até julho, na Assembleia
Legislativa de Pernambuco (Alepe), de promoções para os praças.
A categoria, que iniciou o movimento na noite de
terça (13), também cobrava aumento de 30% a 50%, dependendo da patente.
No
entanto, recuou da exigência.
Após a paralisação ter sido decretada ilegal pelo
Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), o secretário da Casa Civil, Luciano
Vasquez, afirmou que o canal de diálogo e negociação com os PMs havia sido
encerrado.
A Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) do Recife não
tem uma estimativa de quanto foi o prejuízo do comércio nos dois dias de greve
da PM. “Como os lojistas não dizem o quanto faturam, não temos como calcular o
total, mas foi um prejuízo muito grande.
É uma cidade que recebe muita gente de
municípios vizinhos e deixou de receber por dois dias”, afirmou o presidente da
CDL Recife, Eduardo Catão. Segundo ele, nesta sexta ainda há a ressaca da
população e por isso poucas pessoas saíram às ruas. “A expectativa é que mais
gente saia de casa durante a tarde, porque vai ganhando confiança de que está
tudo bem de novo”, explica.